Obesidade

DEFINIÇÃO

O conceito de obesidade mudou ao longo dos anos conforme estudiosos entenderam melhor esta doença tão complexa.

Obesidade é definida, segundo a Diretriz Brasileira de Obesidade em 2016, como distúrbio do metabolismo energético onde ocorre armazenamento excessivo de energia sob a forma de triglicerídeos no tecido adiposo, causado por doenças genéticas, endócrino-metabólicas e alterações nutricionais que podem atuar isoladamente ou em conjunto.

 Ou seja, a obesidade consiste no excessivo acúmulo de gordura sob a forma de tecido adiposo com implicações para a saúde.

A obesidade contribui para o aumento da morbimortalidade por ser um fator de risco para doenças cardiovasculares, distúrbios musculoesqueléticos, muitos tipos de câncer, dislipidemias, doenças neurodegenerativas, doença hepática gordurosa não alcoólica, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, síndrome metabólica, entre outras, impactando sobremaneira na qualidade de vida do paciente.

CAUSAS

Durante a consulta de um paciente com sobrepeso ou obesidade, é fundamental avaliar as causas que levaram ao excesso de peso, bem como investigar possíveis morbidades associadas. A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial.

As causas podem ser:

  • Hábitos alimentares não saudáveis.
  • Sedentarismo
  • Genéticas
  • Alterações hormonais
  • Distúrbios emocionais
  • Medicamentosa
  • Microbiota intestinal
  • Disruptores endócrinos (aditivos que imitam hormônios e prejudicam sua função)
  • Alterações no ciclo circadiano

Não existe apenas uma causa da obesidade e sim o conjunto de vários destes fatores atuando juntos ao longo do tempo.

A obesidade tradicionalmente sempre foi considerada como consequência apenas de fatores nutricionais e relacionada a falta de “força de vontade”. Entretanto, sabe-se hoje que a doença obesidade vai muito além desse antiquado conceito e que existem indivíduos extremamente suscetíveis ao ganho de peso enquanto outros são mais resistentes.

TRATAMENTO

Atualmente são inúmeros os tratamentos para obesidade, entre eles: dietéticos, atividade física, medicamentoso, endoscópicos e cirúrgicos.

Os tratamentos para obesidade muitas vezes ocorrem de forma conjunta e com equipe multidisciplinar. Jamais deve-se iniciar um tratamento para perda de peso sem o acompanhamento de um profissional especialista na área de obesidade, pois estamos lidando com uma doença extremamente complexa. É importante ressaltar que mudanças no estilo de vida são sempre necessárias para o sucesso do tratamento.

Sabe-se hoje na medicina que a cirurgia bariátrica é o tratamento mais eficaz para a perda de peso e, principalmente, para a manutenção do peso perdido a longo prazo quando se trata de casos graves de obesidade (com IMC > 40) ou quando a obesidade (com IMC ≥ 35) já traz complicações metabólicas, osteoarticulares ou psicossociais, causando doenças como: diabetes, hipertensão arterial, distúrbios de colesterol, gordura no fígado (esteatose hepática/esteatohepatite), transtornos do sono, infertilidade, artrose de joelhos e coluna, hérnias de disco, estigmatização social, dentre outros.

Os tratamentos endoscópicos para a obesidade (como balão intragástrico e gastroplastia endoscópica) são alternativas mais eficazes do que o tratamento medicamentoso com dieta e exercícios físicos e podem ser indicados nos pacientes que não preenchem os critérios para a cirurgia bariátrica, porém os resultados de longo prazo continuam sendo uma preocupação.

O fato é que mais de 95% das pessoas que fazem parte de programas não cirúrgicos falham em alcançar e manter um controle significativo do peso por um longo período de tempo.

Clínico X Cirúrgico

Quando uma pessoa perde peso com dieta, o gasto de energia (a quantidade de calorias que o corpo queima) é reduzido e ao mesmo tempo mecanismos de defesa hormonais aumentam o apetite e reduzem a saciedade. Além disso, ajustes no “set point” procuram fazer com que o indivíduo volte ao peso inicial, levando a falha no tratamento em mais de 80% dos casos em 5 anos.

Estudos recentes têm mostrado que com a cirurgia bariátrica e suas mudanças metabólicas significativas, o indivíduo consegue manter uma perda de peso importante e sustentável por até 20 anos. Consideramos o sucesso no tratamento cirúrgico quando o paciente perde entre 30 a 35% do seu peso inicial ou mais de 50% do seu excesso de peso. Porém, espera-se que o paciente no primeiro ano perca em torno de 75% de seu excesso de peso e ao longo de dois anos fique acima de 85%, podendo chegar a perder 100% de seu excesso.

Com a cirurgia, ocorre a mudança na anatomia do trato gastrointestinal, causando alterações biológicas que ajudam a reduzir o consumo de energia, além de aumentar a produção de certos hormônios intestinais que interagem com o cérebro para reduzir a fome, diminuir o apetite e aumentar a saciedade (sentimentos de plenitude).

Alguns pesquisadores mostraram que essa mudança metabólica também pode impactar positivamente o “set point” ajustando-o para um peso menor quando comparado com o início do tratamento.

Desse modo, a cirurgia bariátrica e metabólica, diferentemente da dieta e das terapias endoscópicas, produz perda de peso a longo prazo.

SUCESSO NO TRATAMENTO

A mudança no estilo de vida são sempre necessárias para o sucesso, independente do tratamento proposto.

A manutenção da perda de peso é um desafio tanto para profissionais quanto para o paciente. É importante que o paciente tenha consciência de sua condição e que ele saiba que tem uma doença crônica, que exige um tratamento de longo prazo, seja cirúrgico ou não.

Nesse sentido, o conceito de Medicina de Estilo de Vida, do inglês “Lifestyle Medicine”, mostra a importância de uma prática clínica multiprofissional, visando a promoção e manutenção de hábitos de vida saudáveis e consequente redução das doenças crônicas não transmissíveis, principalmente aquelas relacionadas com obesidade.