O Que é Cirurgia Metabolica / Cirurgia do Diabetes?

Quando falamos em cirurgia metabólica estamos nos referindo ao tratamento cirúrgico prioritário do Diabetes Tipo 2, mas também a outras doenças que compõem a chamada síndrome metabólica, como: hipertensão arterial (pressão alta), elevação do colesterol, elevação dos triglicerídeos, obesidade e excesso de gordura no fígado (esteatose hepática).

 

 

Quem  é candidato a Cirurgia Metabólica?

    A cirurgia metabólica é um tratamento seguro, regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e indicado para o tratamento de pessoas com Índice de Massa Corpórea (IMC) acima de 29,9 kg/m2, que não estão obtendo sucesso no controle do diabetes tipo 2 e outras doenças associadas, mesmo após o tratamento com remédios, dieta e exercícios físicos. 

    Ela foi incorporada há cerca de 10 anos e, nesse curto espaço de tempo, ajudou milhares de pessoas a tratar o diabetes tipo 2 mal controlado.

    O candidato a cirurgia metabólica deverá passar por uma avaliação com equipe multidisciplinar semelhante ao que acontece com a cirurgia bariátrica: com cirurgião, endocrinologista, nutricionista e psicólogo.

 

Diabetes tipo 2 e o seu impacto 

    O diabetes tipo 2 afeta cerca de 14 milhões de pessoas no Brasil. O seu crescimento está associado principalmente a fatores genéticos, estilo de vida sedentário e a dieta não saudável.

    Atualmente, mesmo com os avanços no tratamento clínico do diabetes tipo 2, por tratar-se de uma doença associada ao estilo de vida e necessitar de grande comprometimento por parte do paciente, o diabetes ainda é muito difícil de ser controlado e a maioria dos diabéticos não alcançam os alvos de controle desejados.

Sabe-se que o diabetes é uma doença silenciosa e pacientes que não alcançam os níveis de controle desejáveis estão com a doença em progressão em seus órgãos alvos como: coração, vasos sanguíneos, rins, retina e nervos. 

    O diabetes é a principal causa de cegueira em adultos, principal causa de amputação não traumática, principal causa de doença renal terminal, e 50% a 80% dos indivíduos com diabetes morrem de doenças cardiovasculares (infarto e AVC). A expectativa de vida de quem tem diabetes é cerca de 10 anos menor do que de pessoas sem diabetes.

 

Como funciona a Cirurgia Metabólica

    O conceito de cirurgia metabólica é recente e surgiu a partir de constatações importantes realizadas a partir da cirurgia bariátrica. Percebeu-se que as pessoas submetidas à cirurgia bariátrica obtinham diversos benefícios para a saúde, especialmente em relação ao diabetes, antes mesmo da perda de peso. Constatou-se que transformações endócrinas importantes ocorrem após a cirurgia bariátrica, resultando em uma melhora muito rápida nos níveis de açúcar na maioria das pessoas com diabetes, a ponto de muitas vezes não ser mais preciso usar anti-diabéticos após a cirurgia.

        Transformações anatômicas realizadas pela cirurgia metabólica provocam, além da perda de peso, um aumento significativo da quantidade de vários hormônios que atuam na regulação do açúcar e do metabolismo, além de controlar a fome e promover saciedade, provocando diversos efeitos benéficos no organismo. Esse aumento na produção de hormônios intestinais (chamado de incretinas) estimulam o pâncreas a produzir mais insulina (hormônio que abaixa o açúcar no sangue), melhorando ou até mesmo curando o diabetes tipo 2. Além disso, alterações metabólicas promovem um melhor controle do colesterol, triglicerídeos e pressão alta, assim como o controle da obesidade. Outro aspecto interessante da cirurgia metabólica diz respeito à alteração na microbiota intestinal (flora intestinal), mais um fator que colabora para a manutenção dos índices de glicose após a cirurgia.

    Portanto, o resultado da perda de peso aliado às mudanças na produção de hormônios intestinais, associado a alteração da nossa flora intestinal, resultam no controle do diabetes tipo 2, da pressão arterial, do colesterol e triglicerídeos.

    Tudo isso se traduz em três coisas essenciais: aumento da expectativa de vida, diminuição do risco de complicações das doenças metabólicas e melhoria na qualidade de vida.

 

Tipos de Cirurgias Metabólicas

    As cirurgias metabólicas são a Gastroplastia Redutora em Y de Roux (Bypass gástrico), a Gastrectomia Vertical (Sleeve) e a Gastrectomia Vertical com interposição ileal.  

GASTROPLASTIA REDUTORA EM Y DE ROUX
(BYPASS GÁSTRICO)

    É a técnica mais realizada no mundo como cirurgia metabólica. Existem dois componentes para o procedimento. Primeiro, uma pequena bolsa estomacal, com aproximadamente 30 a 50 ml de volume, é criada dividindo a parte superior do estômago do resto do estômago, o que restringe a quantidade de alimento capaz de ser consumido. Em seguida, uma parte do intestino delgado é desviado retardando a mistura do alimento com os sucos digestivos para evitar a absorção calórica de maneira completa. O Bypass funciona por vários mecanismos. Primeiramente por uma restrição gástrica e desvio intestinal, reduzindo absorção de calorias e nutrientes. E ainda mais importante, o redirecionamento do fluxo de alimentos produz alterações nos hormônios intestinais que promovem a saciedade, suprimem a fome e revertem um dos principais mecanismos pelos quais a obesidade induz o diabetes tipo 2.

Vantagens 

É a técnica mais realizada no Brasil e a mais estudada.

Desvantagens

É realizado um desvio de grande parte do intestino.

Pode levar a deficiências de vitaminas/minerais a longo prazo, particularmente déficits de vitamina B12, ferro, cálcio e ácido fólico.

Ocorrência de síndrome de dumping.

Requer adesão às recomendações alimentares, suplementação vitamínica/mineral ao longo da vida.

GASTRECTOMIA VERTICAL (SLEEVE)

    A gastrectomia vertical (geralmente chamada de Sleeve) é realizada removendo aproximadamente 80% do estômago. O estômago restante é uma bolsa tubular que se assemelha a uma banana. 

    Este procedimento funciona pela redução da capacidade do estômago, o que ajuda a reduzir significativamente a quantidade de comida, portanto, de calorias que pode ser consumida. No entanto, o maior impacto parece ser o efeito que a cirurgia exerce sobre os hormônios intestinais que afetam vários fatores, incluindo fome, saciedade e controle de açúcar no sangue.

    Existem evidências que o Sleeve melhora o Diabetes Tipo 2, porém, em menor intensidade que o Bypass Gástrico e a Gastrectomia vertical com interposição ileal. Pode ser uma boa opção em pacientes diabéticos com riscos cirúrgicos mais elevados ou quando as outras técnicas não podem ser realizadas por algum outro motivo.

Vantagens

Do ponto de vista técnico é de fácil realização e as taxas de complicações são um pouco menores que as do Bypass e da Gastrectomia Vertical com interposição ileal.

Não requer desvio ou redirecionamento do fluxo de alimentos.

Pode ser convertida para o Bypass ou a interposição ileal.

Desvantagens

É um procedimento não reversível.

Tem potencial para deficiências vitamínicas a longo prazo.

GASTRECTOMIA VERTICAL COM INTERPOSIÇÃO ILEAL

    A Gastrectomia vertical com interposição ileal é uma cirurgia que possui duas partes. Na primeira etapa, uma Gastrectomia Vertical (Sleeve) é realizada para redução do tamanho do estômago e redução do hormônio da fome (a grelina). Na segunda, um segmento de íleo é colocado entre o estômago e o início do intestino delgado (intestino fino). Esse segmento de íleo interposto em contato imediato com o alimento ainda não digerido vindo do estômago é o principal mecanismo responsável pelo aumento da produção dos hormônios intestinais (incretinas) que estimulam uma maior produção de  insulina pelo pâncreas, melhorando o diabetes tipo 2. 

    Estudos demonstram que a Gastrectomia Vertical com interposição ileal é o procedimento cirúrgico com o maior potencial de remissão (cura) do Diabetes Tipo 2.

Vantagens

Não requer desvio de grande parte do intestino (apenas duodeno e início do jejuno).

Desvantagens

Maior complexidade do ponto de vista técnico, porém possui taxas de complicações similares a do Bypass quando realizada por cirurgiões com experiência na técnica.

Tem potencial para deficiências vitamínicas a longo prazo.